Álcool, sexo e crime conduzem remake de ‘O rebu’, que a Globo estreia em julho
BUENOS AIRES - Elenco e equipe de “O rebu” estão há um mês gravando no Palácio Sans Souci, em Buenos Aires, mesma locação de “Tetro” (2009), de Francis Ford Coppola. A arquitetura francesa do lugar foi inspirada em Versalhes, o que já torna qualquer menção à sua monumentalidade um pleonasmo. Tudo carrega para o luxo na novela de George Moura e Sergio Goldenberg, com direção-geral de José Luiz Villamarim. A ação é passada numa festa que reunirá milionários e poderosos e culminará num crime quando já for alta madrugada. “O rebu” vai ao ar na TV Globo, a partir de 14 de julho, às 23h. Impossível não notar a coincidência com a data da Queda da Bastilha, quando a França se levantou contra a monarquia e os exageros que rolavam em seus palácios. A comemoração de arromba para selar um negócio de fortunas também não deixará pedra sobre pedra na casa de Ângela Mahler (Patricia Pillar), poderosa dona de empreiteira e mãe adotiva de Duda (Sophie Charlotte). A certa altura da farra regada a álcool e com cenas de sexo grupal, um corpo aparecerá na piscina. O crime fará disparar uma trama de suspense que se estenderá até o último dia, 37 capítulos depois, com a solução do “quem matou?” fornecida pelo delegado Nuno Pedroso (homenagem a Bráulio Pedroso, autor da novela original, de 1974), papel de Marcos Palmeira.
A estrutura da história criada por Pedroso foi preservada pelos autores, que prometem, nas palavras de Moura, “uma versão reverente a ele, mas com uma recriação substancial”. Algumas mudanças são muito evidentes. Por exemplo, Ziembinski (1908-1978) estrelou o original como Conrad Mahler. Patricia ocupou o posto, e não só ela. Conrad tinha um sobrinho, personagem de Buza Ferraz (1950-2010). O parente próximo do protagonista agora coube a uma atriz, Sophie. A intenção, diz George, foi “espelhar a força feminina no mundo atual”.
A ação, como no original, se passa em três tempos: a festa, o dia seguinte, com a investigação, e flashbacks mostrando o passado de cada personagem e suas possíveis motivações para matar. A nova versão será, é claro, turbinada para atender às demandas do público de hoje.
— A narrativa é serializada, e construímos a ação de forma que o espectador também conte os minutos. Tudo muito ágil. No primeiro capítulo, o público já verá os personagens dançando depois de beber muito. Todo mundo virou aquilo que não era — comenta George.
A divisão entre as cronologias não tem pesos matemáticos iguais, como explica Goldenberg:
— Quando a novela avança, o presente cresce.
Essa construção é vista pelos realizadores como algo mais fácil de ser compreendido hoje, depois de “Lost” e “24 horas”, do que em 1974. É como resume Villamarim:
— O “Rebu” de hoje não é tão arriscado como o de 1974. Mas segue tão moderno quanto.
Ele se refere à ação contida em pouco mais de 24 horas entre a descoberta do corpo e a conclusão da investigação. Na novela original, o ritmo era lento, embora veloz para a época. A identidade do morto, por exemplo, só foi revelada no capítulo 50. O cadáver parecia ser de um homem, mas, soube-se depois, era uma mulher (Bete Mendes) que tinha participado de uma brincadeira na festa, de cortar o cabelo e vestir roupas masculinas. Todos eram suspeitos. No elenco principal, estavam ainda José Lewgoy, Lima Duarte, Arlete Salles e Carlos Vereza. Aqui, o público saberá logo quem está boiando e não haverá um “quem morreu?”. Em 1974, a motivação do crime foi passional e com uma insinuação de homossexualidade: Conrad Mahler, o assassino, matou por ciúmes do sobrinho.
Agora, foram criadas inúmeras intrigas paralelas. Os autores leram os 112 capítulos, mas só assistiram ao primeiro e ao 98º. Foi o que se salvou do incêndio na emissora em 1976.
Na TV, a casa onde a ação se passa fica na fictícia Serra do Sossego, perto do Rio. Villamarim afirma que o lugar “é um personagem, um signo, uma representação da ideia de suspensão, de glamour”. Esse universo paralelo de fortuna e poder ganhará tratamento estetizado pelas lentes do diretor de fotografia Walter Carvalho. O fotógrafo, parceiro de Villamarim em “O canto da Sereia” e “Amores roubados”, agora também dirigirá alguns capítulos. Como na série exibida em janeiro, “O rebu” está sendo gravada com uma câmera F55, com qualidade de cinema. Há poucas interrupções nas tomadas. Villamarim procura extrair dos atores maior emoção.
— Quanto mais a gente faz num plano só, mais eles ficam inteiros. E nessa produção a coisa é meio catártica, os personagens bebem, traem, se divertem muito.
Perguntado se cogitou gravar com o elenco tendo bebido de verdade, diz que a ideia ocorreu, mas foi logo descartada: “Seria uma bengala, eles não precisam disso”.
Esse foco nos atores é sentido por todos. Patricia Pillar, que “chegou a lugares incríveis” levada pela direção de Villamarim em “Amores roubados”, diz que aqui não é diferente:
— Nunca fiz uma personagem como esta, tão rica e poderosa. Acho que sequer conheço alguém assim. “O rebu” mistura dois extremos, que são um épico dos sentimentos com a máscara social e a discrição de gente rica elegante. Ângela é contida, usa poucas, mas excelentes joias. A princípio está vivendo um dia de festa, mas não vai ser nada disso.
Cássia Kis Magro, que interpreta a advogada Gilda, segundo ela “uma daquelas mulheres que ganham uns R$ 30 milhões por ano e acham que podem tudo”, reforça o que diz Patricia:
— Tenho 37 anos de profissão e estou sentindo o entusiasmo de uma iniciante. O que rola em “O rebu” é outra parada, outro voo. Gravei cenas sensuais incríveis com o Daniel de Oliveira guiada pelo Villamarim. Ele ia dando a direção falando baixo no nosso ouvido.
A festa de “O rebu”, carregada de expectativas amorosas e financeiras, terá também grandes tensões e antagonismos. O principal deles, entre Ângela e seu sócio e inimigo figadal, o personagem de Tony Ramos. É a comemoração de uma parceria deles, um negócio na área de petróleo. Mesmo sócios, há um ódio imenso entre os dois. Villamarim quis o ator nesse papel, para mexer com um padrão, já que ele costuma interpretar sujeitos do bem.
— Não tenho problemas com vilões — explica Tony, que neste ano vai completar 50 anos de carreira. — Adoro entender as razões que movem as ações do personagem, a linha onde o humano dele acontece. O que é a vilania, afinal? São temperamentos e temperaturas diferentes. Meu personagem não é um sociopata. Aqui é um caso de um homem de negócios que acha que certos atos inaceitáveis são naturais, já que ele ajuda a manter 40 mil empregos e a família. É um sujeito irônico e brincalhão, poderia ser o seu vizinho.
Tony será par de Bel Kowarick, premiada atriz de teatro que está fazendo sua estreia na TV. Ela é uma aposta de Villamarim. O diretor também acredita que Sophie vá explodir. Ela aparecerá com os cabelos bem curtos, à la Jean Seberg em “Acossado”.
— Essa personagem está me levando a dar um passo adiante. É um amadurecimento, um trabalho de detetive, uma menina que nasceu numa riqueza tão extrema que está além de qualquer patricinha — diz.
Para vestir o elenco e os 250 figurantes argentinos que participam da festa, Cao Albuquerque e Natália Duran levaram para Buenos Aires um caminhão de 15 metros com mais de 350 figurinos de noite e 80 de dia. Os autores e o diretor-geral, os únicos a saber quem será o assassino, juram que o desfecho “poderá ser mudado até o último dia”, mas já gravaram cenas sugerindo quem é o culpado. Façam suas apostas.
*Patrícia Kogut viajou a convite da TV Globo
Geente, que isso? LINDA, sempre linda. Aiw que ansiedade.
ResponderExcluirGeovana