Sophie Charlotte é fotografada de bailarina e fala sobre sua volta em série, BBB20 e quarentena

terça-feira, abril 21, 2020

Sophie Charlotte foi capa da revista canal extra deste Domingo(19)

Os mundos de Sophie Charlotte e Maria Alice têm ao menos dois pontos em comum: o balé e a Alemanha. Nascida naquele país, a atriz começou os estudos de dança aos 5 anos de idade e lhes deu continuidade no Brasil, onde chegou aos 7. Por mais uma década, dedicou-se intensamente ao balé clássico, ao contemporâneo e ao sapateado, até não mais conseguir conciliar a paixão com a faculdade e o trabalho na dramaturgia. Já a personagem que ela interpreta em “Todas as mulheres do mundo”, série que estreia no Globoplay na próxima quinta-feira, dia 23, é uma bailarina que vive um intenso romance com o protagonista Paulo (Emilio Dantas), até que decide ir morar em Berlim. As semelhanças entre a vida real e a ficção — escrita por Jorge Furtado em parceria com Janaína Fischer e livremente inspirada na obra de Domingos Oliveira — não são meras coincidências. Sophie explica:

— Os autores e a Patricia (Pedrosa, diretora artística) quiseram misturar minha história com a da personagem. Porque a Maria Alice do filme original (de 1966) era feita por Leila Diniz, com quem Domingos foi casado e por quem era muito apaixonado. Quando Jorge escreveu a série para homenagear toda a obra de Domingos, pensou em chamar algumas pessoas que fizeram parte da vida dele. E ele já me conhecia, até por conta da minha participação em “Doce de mãe” (série da Globo de 2014), em que cantei em alemão, e da proximidade e o carinho que ele tem com Daniel (de Oliveira, marido ela). Foi o próprio Domingos quem me apresentou a Jorge, muitos anos atrás. Se o autor conhece o ator com quem trabalha, tem uma troca maior e aproveita o que lhe é oferecido.

Além de Sophie, outras atrizes protagonizam “Todas as mulheres do mundo”: Lilia Cabral, Maria Ribeiro, Verônica Debom e Maeve Jinkings estão entre as mais conhecidas do público, que será apresentado a novos rostos, propositadamente.

— Paulo vai se apaixonar à primeira vista e nós, espectadores, também vamos — explica o autor, referindo-se ao personagem central de toda a trama, arquiteto e morador de Copacabana que se encanta por mulheres livres, inteligentes e autênticas, mas é abandonado por todas elas.

Também participam da série nomes como Matheus Nachtergaele, Fernanda Torres (que viveu Maria Alice numa versão da obra para a TV Globo, produzida no Natal de 1990), Fabio Assunção e Felipe Camargo, além de atores que trabalharam ou conviveram com Domingos de Oliveira, como sua companheira Priscilla Rozenbaum e sua filha Maria Mariana.

— Estou tão ansiosa para essa estreia! Acho que foi a melhor notícia que recebi nos últimos tempos... Tenho dito para amigos e família que vai ser meu presente adiantado de aniversário. Vou assistir e maratonar de um jeito muito entusiasmado porque fazer parte desse projeto foi lindo. Foi minha amizade com Domingos que me permitiu essa proximidade com a personagem — empolga-se Sophie, que completa 31 anos no próximo dia 29.

Apontada como musa inspiradora do dramaturgo e cineasta, a atriz listou suas próprias divas no papo com a Canal Extra por telefone. E contou sobre essa relação tão especial com Domingos (que morreu há um ano, com mal de Parkinson), o amor pelo balé, as raízes alemãs, a volta ao horário nobre em “Fina estampa”, o que tem aprontado nesta quarentena e os trabalhos que ainda estão por vir. O ensaio de fotos caseiro para esta reportagem, ela mesma produziu, sendo clicada pelo maridão ator.

A amizade com Domingos


“Eu estava fazendo ‘Malhação’ (em 2007) com Dedina Bernadelli, quando ela me convidou para conhecer o espetáculo ‘Cabaré filosófico’, de Domingos. Participei do show, cantando uma música em alemão, e a gente se aproximou. Aí, fiz um curso que ele ministrou para mais de 50 pessoas, que se transformou na peça ‘O apocalipse’, foi a primeira da minha carreira. Dali, eu fui fazer ‘Confissões de adolescente’, que já tinha sido um sucesso enorme na primeira versão, e fiquei com o papel que era de Maria Mariana, filha dele. Só que eu não sabia da real importância desse homem no Brasil. Quando a gente estava amigo num nível confidentes, ele me entregou um DVD com o filme ‘Todas as mulheres do mundo’ para assistir. Foi um choque, uma revelação. Fiquei muito sem graça: ‘Como é que eu converso contigo agora? Você é um grande cineasta! Como eu não sabia disso? (risos)’. Então, eu primeiro fui amiga e depois virei fã. Foram 12 anos de convivência. Ele esteve no meu casamento, acompanhou a minha gravidez, abençoou o meu filho, me deu a honra de participar do filme ‘Barata Ribeiro, 716’ (2016), que é um deslumbre. Domingos é o meu grande mestre, uma fonte inspiradora para a minha vida e a de muito gente. Ele era influente, juntou muitas pessoas que talvez não se conheceriam nesta vida e que, graças ao amor a ele, se reúnem e comungam de uma existência com muito mais poesia”.

Musa inspiradora

“(Gargalhadas) Não é que Domingos me chamasse de musa, mas se você vir ‘BR 716’ vai entender... O olhar dele é muito específico, muito lindo... É uma honra! A gente tinha uma relação única. No ‘Poesias e canções’, em que eu e ele declamávamos textos e cantávamos acompanhados de três músicos, ele falava para mim: ‘A única coisa que nos separa são 50 anos’. É isso, nossa única diferença era de idade. A gente se entendia em tudo. Tem encontros que são difíceis de explicar racionalmente, mas ainda bem que eles acontecem. E Domingos foi o grande encontro da minha vida, mudou tudo para mim. Tenho e-mails lindos que ele me enviou, o presente de casamento que me deu foi uma poesia, e eu passei a festa toda agarrada nela. Essa série traduz um pouco a alma dele. Não poderia ser mais propícia, num momento tão delicado, em que a gente precisa voltar a falar de amor, de relações humanas, com alegria, menos caretice e sem julgamentos”.

À primeira vista


“Eu já tive amores e amizades à primeira vista. O amor que eu tenho pelo Otto (filho, de 4 anos) já vinha desde a concepção dele, na minha barriga. Mas vê-lo pela primeira vez me arrebatou. Com Daniel (marido, de 42 anos) foi um encanto. Com a convivência, durante ‘O rebu’ (2014), o sentimento cresceu e se fortaleceu. Carolinie Figueiredo, minha amiga, é outro exemplo. Nós fomos fazer teste para ‘Malhação’ e voltamos juntas de van para Niterói. Eu dormi no colo dela no trajeto, passamos a morar juntas e seguimos parceiras e comadres. Uma segura a barra da outra, estou sempre para ela e sei que ela está sempre para mim. Isso é muito valioso. Acho que esses tipos de encontros surpreendentes só se apresentam para quem está aberto a viver isso. Quem se deixa apaixonar. A série fala dessa necessidade de se disponibilizar para esse estado de alegria com as coisas mais simples”.

Balé

“O balé foi o meu primeiro contato com uma expressão artística. Ele me deu o ritmo, o entendimento com relação a disciplina, constância, rotina, equilíbrio, superação de limites... São tantos os benefícios da dança! Até a própria endorfina, que o exercício proporciona. Sou uma entusiasta. Há muitos anos, não danço com a mesma intensidade de quando fazia aulas de segunda a sexta-feira, das 14h30 às 21h. Foi assim até os meus 17 anos. Mas agora, na quarentena, tenho voltado a fazer aulas de balé. Existem bons vídeos na internet, a que assisto em inglês, para praticar e não perder a fluência, importante para as gravações da série ‘O anjo de Hamburgo’. Guardo quatro sapatilhas em casa, usadas em diferentes épocas”.


‘O anjo de Hamburgo’

“Ano passado, eu terminei de rodar o filme ‘O adeus do comandante’, de Sérgio Machado, fiz ‘Todas as mulheres do mundo’ em outubro e novembro, e em dezembro emendei ‘O anjo de Hamburgo’. Ficamos um mês em Buenos Aires e interrompemos as gravações já no Rio por causa da pandemia. Estava totalmente mergulhada na série, que é toda em inglês. Eu já era fluente, mas falar é diferente de interpretar no idioma, está sendo um grande desafio. E é uma honra poder viver Aracy de Carvalho, uma heroína brasileira, mulher justa e forte, que foi para a Alemanha e ajudou judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Quando eu me inteirei dessa história, me senti muito conectada e bati à porta do (diretor) Jayme Monjardim pedindo para fazê-la. Passei por vários testes e conquistei o papel”.

Alemanha

“Mantenho elos muito fortes com a Alemanha, ainda tenho família e amigos lá. Em maio do ano passado, passei dez dias em Hamburgo fazendo uma pesquisa para a série. Andei pelas ruas onde Aracy esteve, visitei todos os museus de História e um campo de concentração, marcos desse período tão difícil que foi o holocausto. Tudo isso tem muita ligação com a minha história pessoal: os meus bisavós alemães vieram para o Brasil de navio, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, e tentaram recomeçar a vida em Minas Gerais. Ficaram aqui por um ano, mas não conseguiram se estabelecer e tiveram que voltar para Hamburgo. Meu bisavô chegou a trabalhar como professor de natação num transatlântico que fazia a travessia Alemanha-Brasil. Sabe-se lá se Aracy não viajou nesse navio... É curioso, né? Eu fico pensando nesses desdobramentos, nessas coincidências da vida”.


Quarentena

“Eu e Daniel estamos cuidando da casa e do Otto. Tem os estudos (ensino remoto temporário) dos meninos (os enteados Raul, de 12 anos, e Moisés, de 9), que ficam um pouco aqui e na casa da mãe (a atriz Vanessa Giácomo, de 37 anos). Com Otto, a gente faz umas atividades tipo plantar feijão no algodão com água para brotar. E nos divertimos com jogos de tabuleiro, desenhos, culinária. Estou descobrindo novas receitas... Eu cozinho bem, modéstia à parte (risos). Fiz um bacalhau para a Páscoa e um estrogonofe que foi o melhor de toda a minha vida. Daniel também está se aperfeiçoando na cozinha, os melhores lanches são dele. E a gente se reveza para lavar a louça. E ainda tem banheiro para limpar, roupa para passar, jardim para cuidar... É um trabalho sem fim! Isso tudo está servindo para entendermos um pouco mais o funcionamento da nossa casa, nos reestruturarmos, repensarmos o consumo e a importância das pessoas que estão no dia a dia conosco. Como a contribuição de cada um é importante! Também tenho soltado a minha criatividade em pinturas, colagens, música. Estou aprendendo a tocar violão. A primeira música que dedilhei foi ‘Sol negro’, que Gal Costa e Maria Bethânia gravaram; também já aprendi ‘Trem das cores’, de Caetano Veloso; e agora estou querendo tocar ‘Águas de março’, de Tom Jobim”.


‘Meu nome é Gal’

“O filme estava previsto para este ano, mas segue em fase de desenvolvimento de roteiro. Não é um processo rápido, cartesiano. Às vezes, gravamos a oitava versão do que foi roteirizado inicialmente. Estou na expectativa para o ano que vem, louca para fazer, porque realmente sou muito fã da Gal, e ela merece todas as homenagens! Eu a conheci quando ela fez uma participação especial na novela ‘Babilônia’ (2015). Mais recentemente, já por conta do filme, as diretoras Dandara Ferreira e a Lô Politi nos apresentaram, e mantivemos contato. Gal é, de fato, apaixonante. Uma pessoa maravilhosa e uma grande artista. A gente não sabe exatamente como vai ficar o cenário do cinema brasileiro depois dessa parada por conta da pandemia, mas eu rezo para que se restabeleça logo e que a arte se fortaleça, porque ela é capaz de salvar”.

Edição especial de ‘Fina estampa’

“Estou acompanhando a novela, agora como telespectadora. É curioso ver um avatar meu mais novo na TV! E lembrar dos acontecimentos depois de tanto tempo... Eu nem me recordo de todo o passo a passo da trama de Maria Amália (sua personagem), por isso que é gostoso assistir. Tínhamos ataques de riso incontroláveis! Lilia (Cabral, intérprete de Griselda na novela) me mandou uma mensagem muito boa esses dias lembrando de um que a gente teve numa cena em que Paulo Rocha falava ‘eu tinha um tio’ com sotaque português. A gente caiu na gargalhada, não conseguia mais gravar. Com Marcelo Serrado (intérprete de Crô) também, era impossível não se divertir... Eu fui muito feliz nesse trabalho! Lilia me ensinou muito com o modo dela de trabalhar, o respeito pelo ofício, o jeito com que me abraçou, tão menina, chegando na novela. Eu não a conhecia e ela me adotou, até hoje eu me sinto um pouco filha dela. Foi ao meu casamento e está muito presente na minha vida”.

De lá pra cá

“A novela tem só oito anos, um tempo relativamente curto, mas tanta coisa me aconteceu desde então! Eu acho curioso como as personagens femininas e as paixões eram retratadas na época e fico comparando com agora. Amália é uma jovem mulher que se torna empreendedora de cosméticos naturais. Essa é uma trama muito forte, mas no passado eu não via com tanta relevância, talvez porque fosse muito novinha. Ainda que eu fizesse o meu papel da melhor forma possível, com respeito e carinho. Ao longo do tempo, fui entendendo mais o alcance do trabalho de atriz. Quando fazemos uma novela que vai ao ar no horário nobre, o recado atinge tantas milhares de pessoas! A gente indica caminhos, e isso é um poder e uma responsabilidade imensos”.


‘BBB 20’

“Nunca pensei que eu fosse acompanhar o reality... (risos) Para mim, deixou de ser só um programa de entretenimento, com provas pelo dinheiro, e se transformou numa disputa de narrativas. Isso ficou mais evidente quando Manu (a cantora e atriz Manu Gavassi) voltou do paredão contra aquele rapaz (o arquiteto Felipe Prior). Tem lugares que a gente realmente tem que ocupar, mesmo que não sejam os mais confortáveis e preferenciais. Além de Manu, gosto de Thelma e de Babu. Acompanhar essa história, nesse momento, e com a enorme audiência e mobilização que esse programa tem, é importante, sim. Pensa que coisa louca: o pessoal da casa está imune ao coronavírus!”.

O que vem por aí

“Além do filme da Gal, vou fazer um outro, chamado ‘Manas’, um projeto lindo da Mariana Brennand. A trama se passa na Ilha de Marajó, terra de onde vem a outra parte da minha família (Sophie é filha de uma alemã com um paraense). Vai contar uma história forte, pesada, mas transformadora. Li algo sobre um próximo trabalho meu em novela (foi divulgado que ela estaria na próxima obra do autor João Emanuel Carneiro), mas ainda não sei de nada. Emendei séries e filmes sem planejar, os projetos foram se encaixando. Mas amo fazer novela! Redescobri essa potência de comunicação com a volta de ‘Fina estampa’, que está tendo uma repercussão enorme desde o primeiro capítulo desta edição especial”.

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