Sophie Charlotte sobre 'Passaporte para Liberdade': "Precisei inventar uma coragem dentro de mim"


 Sophie Charlotte, 32 anos de idade, ficou dedicada ao trabalho em Passaporte para Liberdade durante os últimos três anos e não esconde a satisfação em ver a minissérie na TV Globo. A atriz, que bateu na porta do diretor Jayme Monjardim para se candidatar à personagem, afirma ter ficado fascinada com a história de Aracy de Carvalho - brasileira que foi morar na Alemanha em 1935 e se arriscou para salvar muitas pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.


“Viver a Aracy me despertou para a importância de ter coragem na vida, de agir pelo coração, sem temer, sem deixar o medo tomar conta. Essa minissérie é um convite à ação”, conta ela, que gravou toda a trama em inglês. “Por mais que eu já falasse a língua, é diferente ter que atuar nela. A forma de memorizar o texto era outra.”


Para o trabalho, Sophie voltou sozinha para Hamburgo, cidade alemã onde nasceu e viveu até os 8 anos de idade. “Tenho uma ligação muito profunda com a cidade de Hamburgo. O alemão é minha língua materna. Foi onde nasci e vivi até os 8 anos. Já a Aracy nasceu no Brasil e foi morar em Hamburgo. A mãe dela era alemã, assim como a minha mãe é alemã. Esse encontro cultural do Brasil com a Alemanha faz parte da minha vida.”



Quem: Você contou que teve 'cara de pau' e batalhou pelo personagem da Aracy de Carvalho em Passaporte para Liberdade. Quais as realizações que este trabalho te proporcionou?
Sophie Charlotte: Foi arrebatador descobrir uma história de uma mulher dessa magnitude e dessa importância. Descobri, meio que por acaso, em um almoço no Projac que essa história dela se tornaria uma série. Fui correndo bater na porta da sala do Jayme [Monjardim, diretor]. Muitos acasos me levaram para essa história. Aprendi muito, de um jeito imensurável, com a Aracy. Meu coração acelera ao ver os capítulos. Não foi nem um, nem dois anos envolvida com essa personagem. Foram três anos intensamente envolvida na preparação para viver a Aracy.


Em tanto tempo dedicada a uma personagem, o que pode detalhar dessa preparação?
Quando fui bater na porta do Jayme, a série seria em português. No meio do processo, definiu-se que seria feita em língua inglesa par possibilitar a parceria da TV Globo com a Sony. Demos um passo além para que a série seja distribuída para diferentes países. Atuar em outra língua é uma aventura imensa. Durante todo o tempo deste processo, acabei ganhando o domínio em uma outra língua. Já falava inglês, mas uma coisa é falar e outra coisa é atuar em uma língua que não é a do seu dia a dia. Tive ajuda de duas grandes preparadoras. O Jayme deu conta de um set imenso e com mil variantes, afinal nosso elenco é múltiplo e diverso, conta com pessoas de diferentes partes do mundo.


Você nasceu na Alemanha. Ainda que as gravações não tenham sido lá, teve um resgate com suas origens?
Sim, tenho uma ligação muito profunda com a cidade de Hamburgo. O alemão é minha língua materna. Foi onde nasci e vivi até os 8 anos. Já a Aracy nasceu no Brasil e foi morar em Hamburgo. A mãe dela era alemã, assim como a minha mãe é alemã. Esse encontro cultural do Brasil com a Alemanha faz parte da minha vida. Eu me sinto muito privilegiada de ter a oportunidade e por ter convivido com a Aracy – pelos menos estudos – por três anos. Mergulhei no material fornecido pelo Jayme e a produção. Era muito rico, uma pesquisa imensa. Li a biografia dela, Justa entre as nações, vi o doc do Caco Ciocler [Esse viver ninguém me tira, de 2014]. Procurei absorver tudo o que havia disponível e também me render à ficção que Mario Teixeira propôs para dar conta de outros assuntos. Antes de entrarmos no processo de preparação, voltei a Hamburgo e passei 10 dias lá. Foi a primeira vez que fui sozinha paa a cidade e fiz uma pesquisa profunda nos museus, fiz caminhadas… A paisagem, o clima e a comida já me faziam ter uma relação muito profunda. Gravamos a série em inglês, mas nos bastidores eu só falava em alemão com o Peter [Ketnath] e o Stephen [Weinert] e isso me provocou uma reconexão com as minhas raízes, com a minha cidade. Hamburgo é uma cidade linda, portuária e muito importante.


Passaporte para Liberdade foi seu primeiro trabalho com o Rodrigo Lombardi. Como eram os bastidores?
É tão bom e tão fácil trabalhar com o Rodrigo. Ele é um gaiato, o tempo todo damos risada. Antes de conhecê-lo, não esperava que ele fosse assim, foi muito prazeroso conhecê-lo. Retratamos uma história de amor que acontece no meio da Segunda Guerra Mundial, uma mulher que sai do Brasil para recomeçar sua vida na Alemanha. O amor se impõe em qualquer tempo. O amor é o respiro e o contrapeso do terror. A gente conversou muito sobre a importância de retratar o amor. Mesmo em tempos tenebrosos, as pessoas precisam viver e creio que isso ajude a intensificar as relações. A parceria com o Rodrigo foi das melhores. Sou muito grata pelo cara que ele é. É um grande parceiro de cena.


Qual foi o principal aprendizado que a personagem te trouxe?
Ela passa por cima do medo para ajudar o outro. Para mim, isso é um questionamento marcante: quanto você se arriscaria para ajudar o outro? Essa mistura de biografia e ficção me ajudou muito. Foi um grande aprendizado porque tínhamos em mãos um desafio duro e complexo nas mãos. Lembro de olhar para o Jayme no último dia e falar: “A gente chegou até aqui”. Tivemos uma travessia gigantesca para conseguir entregar essa minissérie ao público. Aracy é uma dessas mulheres capazes de transformar com ações, mas que nem pedem para ser reverenciadas depois.


Como mulher, considera Aracy inspiradora?
Ela se sustentava como mulher, como ser humano, como uma pessoa ativa, pronta para tomar decisões fortes e capazes de transformar a vida das pessoas. Tudo isso foi muito especial. É muito marcante encontrar uma história como essa. Foi o máximo realizar esse trabalho, deu uma sensação de ciclo, de que nada é por acaso. Essa série poderia ter acontecido quando eu era criança ou daqui a 20 anos, mas aconteceu agora. Tenho uma faixa etária condizente ao papel. O Jayme me dirigiu em meu primeiro trabalho, a novela Páginas da Vida [Globo, 2006]. Após esse hiato longo, tivemos a chance de trabalhar novamente com essa minissérie maravilhosa, um projeto único. Não existem acasos e o destino tem sido muito generoso comigo. Viver a Aracy me despertou para a importância de ter coragem na vida, coragem de agir pelo coração, sem temer, sem deixar o medo tomar conta. Essa minissérie é um convite à ação.


Consegue eleger o maior desafio deste trabalho?
Atuar em inglês foi um desafio que se apresentou no set. Por mais que eu já falasse a língua, é diferente ter que atuar nela. A forma de memorizar o texto era diferente. Era quase como um daqueles livros de colorir em que você tem que estar atento aos detalhes. Tive que criar novas pontes para a memória e isso foi enriquecedor ao trabalho. Além disso, gravamos no verão de Buenos Aires e nossos figurinos tinham três – às vezes, até quatro – camadas de vestidos e mais um sobretudo, luvas… Sei que estou prolixa. É porque amo falar deste trabalho. Foi totalmente diferente e muito forte. Tinha muita responsabilidade. Acho que nunca senti tanta resposabilidade. Eu me considero muito sortuda, privilegiada e abençoada. Quero apenas aproveitar cada oportunidade e seguir meu coração e ter coragem. Para viver a Aracy, precisei inventar uma coragem dentro de mim. Tenho uma imensa gratidão a todos os setores. Busquei contribuir ao máximo.

Fonte: Revista Quem

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