'A exposição é uma questão de escolha', diz atriz Sophie Charlotte em nova entrevista

Foto: Juliana Rocha

Com o tempo, o público viu Sophie Charlotte crescer e amadurecer não só como atriz, mas também enquanto mulher. Hoje, aos 33 anos, ela celebra o sucesso de Todas as Flores, novela do Globoplay em que interpreta uma deficiente visual e que retorna para uma segunda temporada em 5 de abril. E vislumbra, inclusive, a possibilidade de construir uma carreira internacional, já que vai lançar em novembro seu segundo trabalho em inglês: o filme The Killer, da Netflix, assinado pelo diretor David Fincher, de sucessos de Hollywood como Seven e Zodíaco. Fora isso, Sophie protagoniza a cinebiografia de Gal Costa, que tem estreia prevista para setembro, e contracena com o marido, Daniel de Oliveira, em O Rio do Desejo, filme que chega aos cinemas na próxima quinta-feira. Rodado no Amazonas e inspirado em conto de Milton Hatoum, o longa traz Sophie no papel de Anaíra, mulher casada com o comandante de barco Dalberto (Daniel de Oliveira) e que acaba atraindo o interesse amoroso dos dois irmãos dele. Confira, a seguir, o gostoso bate-papo com Sophie que cedeu entrevista exclusiva para A TRIBUNA.


Ao longo da carreira, você tem feito personagens com cada vez mais texturas e maior complexidade. Foi um processo consciente e planejado? 

Acho que é uma junção, uma soma de fatores. No começo da minha trajetória, tive bastante sorte e recebi personagens distintos, cada um com cores diferentes, que me deram a oportunidade justamente de mostrar esse meu desejo de fazer papéis que me desafiassem e levassem a desbravar outras possibilidades artísticas. Por exemplo: participei de um teste para entrar no elenco do meu novo filme, O Rio do Desejo. Acredito que a soma de fatores que citei também passa pelo meu amadurecimento enquanto atriz e mulher, o que coincide com o processo cultural e social que o País vem vivendo e com o nosso entendimento diferente do feminino. Dentro das narrativas, as mulheres passaram a ocupar o centro da trama e, aos poucos, deixaram de estar só a serviço das histórias dos protagonistas e heróis. 


No filme O Rio do Desejo, a sua personagem acaba deixando três irmãos apaixonados por ela. Acredita que o longa vai fazer o público refletir sobre os dilemas e tabus afetivos? 

Realmente não sei se as pessoas vão rever os seus conceitos e as suas morais, talvez seja muita pretensão achar que o filme leve a isso. Mas tenho o maior orgulho desse trabalho. O set era tão gostoso. Sinto saudade das vivências que tivemos. Tomara que o público seja generoso com a gente, porque cinema é resistência. Precisamos valorizar as produções nacionais para que o nosso cinema volte a ter a potência de antes da pandemia. Rodamos O Rio do Desejo no Amazonas, na cidade de Itacoatiara, e foi emocionante acompanhar a primeira pré-estreia, em Manaus. O meu objetivo enquanto atriz não é impulsionar sempre as mensagens que quero transmitir com os meus trabalhos, mas dar espaço, abertura, para que cada projeto estimule manifestações e pensamentos no público. No caso de O Rio do Desejo, devido às várias nuances da trama, creio que cada pessoa vai assistir e analisar a partir da sua própria métrica.


Esse longa ainda permitiu mais uma parceria profissional com o seu marido, o ator Daniel de Oliveira. Como é trabalhar com ele? 

É algo muito curioso, pois os trabalhos que fizemos até agora acabaram sendo absolutamente distintos. Nos conhecemos na novela O Rebu e nela interpretamos um casal apaixonado. Depois, gravamos a série Os Dias Eram Assim, em que o personagem do Daniel era o meu algoz, o grande vilão da história. Já O Rio do Desejo é a nossa primeira parceria no cinema. Eu queria muito fazer um filme com o Daniel. Admiro demais o trabalho dele. Sem contar que temos processos bem diferentes. Olha, amo o que faço. Gosto de falar sobre o ofício, debater, descobrir novos caminhos. 


O que é essencial para conciliar, de forma equilibrada, a agenda profissional com a maternidade? 

É um desafio que não tem muito uma solução e que envolve fazer o melhor possível. Acho que uma das grandes bênçãos que obtive, logo no início da maternidade, foi a de me perdoar completamente, não entrar naquela dinâmica de ficar me culpando. Procuro estar com o Otto o máximo que dá, com a maior qualidade de afeto e escuta. Reparo que ele é um garoto feliz. A gente possui bastante intimidade. Eu conheço o Otto e ele me conhece. Não temos uma relação distanciada, nem terceirizada. Ele entende que a agenda da mamãe, às vezes, é complicada. E graças à minha família, possuo uma grande rede de apoio, que faz a diferença. Quando o Otto não está comigo, ele fica com o Daniel, com o meu irmão Angelo (Wolf), que é um padrinho bem presente, com a minha mãe ou com a minha sogra. Ainda contamos com o auxílio do Julio Andrade (ator da série Sob Pressão) e da Elen Cunha, que são nossos amigos. O Joaquim, filho deles, também fica com a gente e é o melhor amigo do Otto.


Mesmo com a exposição trazida pela fama, você e o Daniel conseguem manter a sua privacidade. Qual é o segredo para isso? 

Hoje, a exposição é uma questão de escolha, porque tem tanta gente disposta e interessada em abrir o seu íntimo em público que isso me dá um pouco mais de espaço para me resguardar. Noto que as pessoas respeitam e entendem o que determino como a minha área segura, como a minha privacidade. E eu, no fundo, sempre gostei de me resguardar. 


Como vê o sucesso de Todas as Flores, ainda mais que é a primeira novela produzida para o Globoplay?

 Até a estreia foi um processo de muita adrenalina e apreensão, com todo mundo se dando as mãos, porque não sabíamos como seria a repercussão. O retorno positivo é um presente do público para a gente. Acho que tudo ajudou: a dinâmica da história, o formato... Ninguém imaginava que o brasileiro ia gostar tanto de ficar angustiado esperando uma semana para ter os próximos cinco capítulos. Isso deu muito certo. Para você ter ideia, no Carnaval, cantei num trio do Baixo Augusta, em São Paulo, e lá de cima vi um homem do público falando e gesticulando: “Cadê os meus capítulos?” (risos) Essa atitude mostra a potência da história e a curiosidade que ela gerou pela segunda temporada. Fico com um frio na barriga quanto a esse novo momento da Maíra. A gente, inclusive, já gravou tudo. Reparo que há uma expectativa das pessoas para que a Maíra se vingue e provoque uma reviravolta na trama. Não é toda heroína que consegue uma torcida como ela. 


Tem outros projetos em vista?

 Estou animada para este ano. Em setembro, lanço o Meu Nome é Gal, cinebiografia da Gal Costa e, em novembro, sai na Netflix o longa internacional de que participei, o The Killer, do David Fincher (diretor de Seven e Zodíaco). O filme da Gal foi tão especial e luminoso para mim. Apesar de levar muito a sério o meu trabalho, nesse projeto tive um ato revolucionário, que foi me permitir aproveitar ao máximo cada momento, do ponto de vista pessoal, sem me preocupar tanto com as consequências, sabe?


Por acaso, o The Killer representa a busca por uma carreira internacional? 

Tenho esse desejo, sim, e os streamings dão a possibilidade de você fluir entre mercados. Hoje, há atores que fazem trabalhos no seu país, mas também pela Europa, Ásia e Estados Unidos. Essa é a minha ideia. Aliás, tenho o sonho de rodar um filme em alemão.


Você nasceu lá. Mantém algum elo com o país? 

Nasci em Hamburgo e vivi na Alemanha até os 8 anos. Minha mãe é alemã e bióloga marinha. Ainda tenho familiares e parentes lá. Vou te falar que o filme O Rio do Desejo faz arco com a outra parte da minha ancestralidade, pois a família do meu pai é paraense. A minha avó paterna ocupou papel muito forte na minha criação e no meu entendimento do poder feminino. Sem falar do meu pai, que sempre será importante demais na minha vida (ele morreu em 2021 e era cabeleireiro). Aprendi com ele a cuidar do meu cabelo e a me maquiar. Às vezes, penso: “Pai, o que você diria agora? Me dá um sinal”. Pessoas como meu pai e minha avó paterna viram referenciais, grandes faróis na vida. Acho que eles também se manifestam através das minhas conquistas.


Texto/Créditos: A Tribuna - Stevens Standke

Foto: Juliana Rocha

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