No auge! Sophie Charlotte em entrevista e ensaio exclusivo fala sobre casamento, trabalhos e drogas


A icônica afirmação de Simone de Beauvoir — “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher” — sintetiza o turbilhão de transformações e descobertas pelas quais Sophie Charlotte, de 33 anos, vem passando nos últimos tempos. A atriz, que nasceu em Hamburgo, na Alemanha, veio para o Brasil aos 8 anos e despontou para o grande público em 2007, em “Malhação”, da TV Globo, avançou na carreira e rompeu limites profissionais, sem abrir mão de um traço quase palpável da sua personalidade: a responsabilidade.


Nesta entrevista, feita em duas chamadas de vídeo, a atriz fala sobre os filmes que lançará este ano — “O rio do desejo”, com direção de Sérgio Machado, baseado em conto do escritor amazonense Milton Hatoum e estreia marcada para 23 de março; “Meu nome é Gal”, dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, que será lançado dia 21 de setembro, aniversário da cantora baiana; e “The killer”, de David Fincher, que chegará à Netflix em novembro — e também sobre a segunda temporada da novela “Todas as flores” (Globoplay). Sophie também discorre sem rodeios sobre temas polêmicos, como drogas e aborto, desejo de ter um segundo filho e sobre o casamento com Daniel de Oliveira: "Já passamos por crises brabas, mas faz parte. O entendimento do desejo é uma dinâmica de espaço e tempo. Há momentos de aproximação, outros de afastamento.




Como foi interpretar a Gal?


Para além das voz de cristal, é um farol para todas nós, mulheres. Como artista e também pela revolução a qual ela se propôs, tantas vezes, durante a carreira. Também me impactou muito resgatar aquele tempo histórico, que é o recorte do longa (o filme retrata as vivências da cantora no final dos anos 1960 e início da década de 1970). Gal segurou a bandeira do tropicalismo enquanto Gil e Caetano estavam exilados, viveu a liberdade na contenção da ditadura. Fez uma revolução na praia, com o corpo livre sob o sol. Esse desbunde foi ligado a um contexto específico. Foram quatro anos de pesquisa em que a conheci, aproximei-me ainda mais de Salvador, vi de perto o bairro da Graça, assisti a todos os seus shows e ouvi compulsivamente seus discos. Gal é tão múltipla, ela tornou-se um farol na minha vida. Sou outra: nunca mais falarei do feminino da mesma maneira.


Você citou o tempo histórico do filme, que foi a época do desbunde, do corpo livre, de drogas, das dunas da Gal. Você já desbundou?


A minha geração está aprendendo com a que está chegando agora, que tem algo que se aproxima mais da geração da Gal. A minha é muito careta (risos). Sempre fui muito responsável e ligada ao trabalho. Não sei se me dei esse espaço. Mas também acredito que não seja algo, necessariamente, ligado aos 18 anos. Dá para viver o desbunde em qualquer época da vida.


Quais gavetas a Gal abriu dentro de você?


Muitas e continuará abrindo. Provocou um exercício de entendimento e desconstrução do que se espera do feminino. Mulheres como ela são absolutas, isso vem naturalmente. Outras vão evoluindo para se tornarem exatamente quem são e se tornarem sua máxima potência. Estou me repassando nessa conversa quase de análise (risos)... Talvez o meu desbunde ainda chegue.


Já fumou maconha?


Claro! Minha relação com as drogas é muito suave, nenhuma delas me pegou. Mas faço questão de falar sobre esse assunto de maneira responsável porque a adicção química é muito arriscada e grave. Tenho amigos que, por vários motivos, não fizeram um caminho tão legal. Na minha vivência, foi tudo certo.


Vocês (Daniel de Oliveira) estão casados desde 2015 e tem um filho, Otto, de 6 anos. Como lidam com as crises?


Depois deste tempo todo, o mais legal é desdobrar os vínculos que temos. Daniel é meu parceiro amoroso, pai do Otto, pai dos meninos (Raul, de 15 anos, e Moisés, de 12, do casamento com Vanessa Giácomo), meu roomate... São muitas relações e cada uma delas tem suas questões. No decorrer da vida, é necessário entender qual precisa de ajustes. Já passamos por crises brabas, mas faz parte. O entendimento do desejo é uma dinâmica de espaço e tempo. Há momentos de aproximação, outros de afastamento. O importante é se escutar, manter a admiração e a vontade de estar perto.


Desejam ter um segundo filho?


É difícil essa escolha. Eu quero. Porém, acompanho mulheres com mais de 35 anos que levaram um susto (por não conseguirem engravidar), que poderiam ter congelado os óvulos se tivessem tido mais informações. Deveríamos falar mais sobre esse assunto, debatê-lo. Ainda não congelei meus óvulos, mas penso nisso. Farei 34 anos e tenho muito trabalho em 2023.






Fonte/texto: Caderno Ela - O GLOBO

Fotos: Mariana Maltoni

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