Sophie Charlotte, que vive Gal Costa em filme, conta que o filho foi seu primeiro 'crítico': 'Não reconheceu a voz da mãe'

sexta-feira, outubro 13, 2023

 

O sim foi imediato quando Sophie Charlotte, há cinco anos, recebeu um telefonema com o convite para viver no cinema a artista de quem é fã, Gal Costa. Desde então, ela começou a se preparar. Cantorias no chuveiro, no ouvido dos vizinhos e do marido, o ator Daniel de Oliveira... O resultado de tanto estudo e dedicação pode agora ser conferido pelo público. “Meu nome é Gal”, que narra um recorte da trajetória de uma das maiores cantoras do Brasil e tem direção de Dandara Ferreira e Lô Politi, estreia oficialmente no dia 12 de outubro, mas ganha sessão especial no Festival do Rio neste sábado.


— Uma das primeiras canções que Otto (filho de Sophie, de 7 anos) aprendeu a cantar foi “Barato total”. E ele foi meu primeiro crítico! Quando gravamos os primeiros registros da minha voz cantando Gal, antes de mostrar até para ela, eu coloquei para ele ouvir. Disse: “Filho, escuta isso. Quem é?”. Aí ele falou: “Gal Costa”. Não reconheceu a voz da mãe! (risos) — recorda Sophie, que ouve as canções da cantora desde a infância, quando ainda morava na Alemanha, país em que nasceu: — Quando eu botava os discos para tocar lá na Europa, vinha a memória do calor, do cheiro, das flores, de tudo do Brasil. A voz da Gal é um estandarte da nossa expressão de brasilidade.


A homenageada, infelizmente, não conseguiu ver o filme pronto. A cantora, que morreu no dia 9 de novembro de 2022, no entanto, assistiu a uma apresentação feita pela equipe com conceitos estéticos da obra, incluindo a gravação que Sophie tinha mostrado ao filho.


— Foi muito forte e importante para mim. Gal ouviu uns trechos e foi emocionante, lindo — descreve Sophie, de 34 anos, refletindo: — Acho que Gal é a obsessão mais linda que eu tenho na minha vida.


No longa, há tanto o canto de Sophie quanto o da própria estrela da MPB em alguns momentos. Dandara, que além de dirigir a produção, interpreta Maria Bethânia no longa, destaca:


— Gal sempre foi muito receptiva e carinhosa com Sophie. No nosso primeiro encontro, falou que estava com medo, mas que ficou muito feliz por saber que seria ela a atriz, de quem gostava bastante. Achava que Sophie tinha uma timidez, uma sutileza e uma doçura, e que ela se encontrava nesses traços quando era mais jovem. Além da voz, Sophie trouxe também outro elemento importante para Gal que é o corpo.


O lançamento, com distribuição da Paris Filmes, aborda a trajetória da tímida Maria da Graça, que chegava no Rio de Janeiro aos 20 anos, até o momento em que ela se consagra como uma de nossas maiores artistas. O contexto de repressão e censura dos anos 60, bem como o movimento tropicalista, ambientam a história, que ainda traz como personagens Caetano Veloso (Rodrigo Lelis), Gilberto Gil (Dan Ferreira) e Dedé Gadelha (Camila Mardila). A obra é ficcional, mas baseada em fatos que realmente aconteceram. Lô Politi, que também assina o roteiro, pontua que shows, músicas e algumas histórias seguem fiéis à vida real. Sophie, inclusive, agradece aos fãs da cantora, que ajudaram com o envio de materiais e registros sobre ela, fundamentais na construção da personagem.


A primeira exibição do filme aconteceu em Salvador, na Bahia, cidade de Gal. O encontro pareceu tão especial quanto os próprios bastidores de gravação.


— Nós, do elenco, fomos morar juntos por um tempo em Cotia, São Paulo. Cada um tinha seu quarto e banheiro, mas os ambientes comuns eram compartilhados. Estabelecemos amizades profundas, que contribuem demais para o filme. Nós curtíamos, fazíamos sarau, vivemos uma alegria juntos — recorda Sophie.


Luis Lobianco, que interpreta o empresário que gerenciou os primeiros passos da carreira de Gal, Guilherme Araújo, passou, inclusive, seu aniversário de 40 anos nesse período, confinado com os colegas. Ele destaca:


— Sempre programei durante anos como seria essa data, e acabou sendo completamente diferente de tudo. Fizemos uma festa tropicalista com todos de branco, inesquecível!


A união da equipe se deu por essa amizade, mas também por todos terem em comum uma adoração a Gal.


— A maioria veio fazer o filme porque é muito fã e conhecedor da obra dela. Diretor de fotografia, de arte, figurino... Alguns nem podiam fazer, mas deram um jeito de conseguir, porque era a Gal. Todo mundo tinha uma reverência grande a ela, que nos uniu nesse propósito — diz Lô.

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